quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O Lado Bom da Vida, de Matthew Quick (livro e filme)



"Dói olhar para nuvens, mas também ajuda, como a maioria das coisas que causam dor"

Algo que é muito alardeado por nós amantes de livros é que os livros são sempre melhores que os filmes inspirados neles. Exagero. E como já diria o sábio Simplício de A Luneta Mágica, de Joaquim Manuel de Macedo: "Exagerar é mentir". E O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook) vem comprovar isso. Gostei do livro, achei simpático, com bons momentos e uma grande premissa. A execução, no entanto, teve suas falhas, mas nada que anule o prazer da leitura. Só que o filme foi além e conseguiu até contornar algumas falhas do livro.

Pat (Bradley Cooper) é um professor de 30 e poucos anos recém saído de uma clínica para pessoas com problemas mentais, ele é bipolar e teve uma grave crise que culminou no fim de seu casamento. Ele também é um otimista incurável, ele acredita em finais felizes e que o filme da sua vida está caminhando para isso, e o final feliz para ele seria voltar para sua ex. Pois é, otimistas também são depressivos - mais uma “verdade” que vem abaixo nesse texto. 

A graça da história está nas interações de Pat com os demais personagens: seu alegre companheiro de clínica; sua dedicada mãe; seu distante pai; seu bem sucedido irmão; seu terapeuta e companheiro de torcida pelo Eagles; e, especialmente Tiffany (Jennifer Lawrence), uma viúva maníaca depressiva (salvo engano, não lembro bem como a diagnosticaram), e os dois, cada um com sua “insanidade”, vão caminhando (ou melhor, correndo e dançando) juntos nessa loucura que é viver. 

Uma das diferenças entre o livro e o filme é a forma que trazem e contornam esses personagens, e o pai de Pat é que sofre a maior mudança de uma mídia pra outra. No livro ele é um cara que mal interage com o filho e é dolorido acompanhar essa relação, já no filme de David O. Russel (diretor também do bom e premiado O Vencedor), ele adquire um tom mais terno e carinhoso, provavelmente porque Russel tenha um filho com problemas semelhantes ao de Pat.

Boa parte das críticas negativas que ouvi por aí sobre filme dizia respeito a sutiliza, simplicidade ou leveza da história, já que uma temática como essa deveria ser mais sombria e pesada. Sim, o filme e o livro poderiam ter ido por esse caminho e poderia ter se saído bem, mas ir pelo caminho menos nebuloso e mais afável também foi uma boa escolha e não desmerece suas oito indicações ao Oscar 2013 (filme, diretor, ator, atriz, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, roteiro adaptado e edição) só por isso, ou vamos também ter que questionar todos os prêmios e méritos do Woody Allen, por exemplo. 

O Lado Bom da Vida é mais comédia romântica do que qualquer outra coisa sim, só que dentro desse gênero tão batido e tão seduzido por clichês, ele consegue se diferenciar. Ouso dizer que é mais difícil fazer rir do que fazer chorar, e fazer rir e chorar no mesmo filme, então... O livro é uma dramédia disfuncional, e o filme é  divertido e sensível, e isso deve bastante ao roteiro e especialmente aos seus atores, até Robert De Niro (no papel de Pat pai), como disse Isabela Boscov, resolveu voltar atuar e não apenas trabalhar burocraticamente como ator. O fato é que saí do cinema tocada pela história (mesmo já tendo lido o livro!) e adorando todos aqueles personagens. 


"O mundo quebrará seu coração de dez maneiras diferentes, isso é uma certeza. E não posso começar a explicar isso ou a loucura dentro de mim e dos outros."

p.s. Em geral, eu não gosto de capas de livros iguais aos pôsteres dos filmes, mas abro feliz uma exceção para O Lado Bom da Vida. Confesso que a beleza de Bradley Cooper foi um fato crucial nessa minha decisão. 
p.p.s. Agora temos uma página no facebook, curtam !

3 comentários:

Unknown disse...

Sam, estou muito curiosa. Acho que depois do seu post me animei a ir direto no filme, mas ainda não está passando por aqui. Engraçado, isso da história tratar de um tema denso com leveza deveria ser considerado um mérito, né? Ai, se a gente pudesse fazer isso com tudo na vida.
(Ah, e nada mal ter um livro com o Bradley Cooper na capa, hein?).
Beijos

Anônimo disse...

Eu não li o livro, mas também adorei o filme. Achei delicado, real. Todos estavam excelentes na atuação. Perfeito!

Unknown disse...

Excelente texto Sam, parabéns pela escrita. Mesmo não tendo lido o livro e assistido o filme, concordo com suas opiniões sobre os méritos da história. Nem tudo que é sério, precisa ser pesado para que seja bom, muitas vezes o humor e a leveza são um ótimo caminho!