quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Mulher Perdigueira, de Fabrício Carpinejar



“No amor, em algum momento, você terá que ser ingênuo 
e acreditar. Terá que largar uma vida, refazer sua vida. Terá 
que abandonar a filosofia pessimista,a inteligência solteira do
botequim e se declarar apaixonado.  Terá que ser incoerente, 
contradizer fundamentos inegociáveis. Terá que rasgar a
certidão negativa, a proteção bancária,
os manifestos de aversão ao casamento e filhos.” 
Carpinejar


Num relacionamento amoroso, a mulher não pode bancar a controladora, ciumenta e escandalosa, não pode ligar o tempo todo, escancarar a paixão, afinal, homens não gostam disso. Opa! Cuidado com as generalizações, Fabrício Carpinejar declara: “Quero uma mulher segurando meus dois pés. Segurar os dois pés é carregar no colo”. Ele gosta justamente do tipo de mulher que a sociedade reprova, ou melhor, ele gosta de mulher de verdade, aquela que é emoção não reprimida pela razão. Mas não se trata de uma mera preferência, é defesa que explica, justifica. É crítica aos amigos e demais homens que clamam por liberdade. É uma obra literária.

Mulher Perdigueira é um livro que reúne crônicas que versam não só sobre a paixão de Carpinejar à mulher que envergonha boa parte da sociedade, como também sobre as situações comuns que ocorrem nos relacionamentos, no jogo da convivência, na sua vida. Talvez por ser poeta, transforma o simples em encantador ou, se preferirem, aponta o encanto do simples, do pequeno, do corriqueiro.

Romântico e cuidadoso na escolha das palavras, Carpinejar nos envolve numa leitura prazerosa. Provocador, nos leva a questionar nossas convicções, a concordar, discordar, duvidar, criar certezas, pensar. Uma leitura que nos provoca é sempre válida.

Indiscreto, abre o livro e, com isso, nos engole num golpe de intimidade. E, então, o leitor se sente em casa. Fica a ligeira sensação de que descobrimos muito sobre o mundo masculino, pelo menos o de um gay heterossexual chamado Carpinejar. Aos homens curiosos por entender nosso universo, muitas constatações sobre a mente e o comportamento feminino. Fica a descoberta de que a dinâmica dos relacionamentos varia muito pouco, mas que, ao mesmo tempo, não se sustenta com receitas. Fica uma lição que vale para qualquer relacionamento: “a dor não pede compreensão, pede respeito.”

Mulher Perdigueira, publicado em 2010, é a dica de leitura para quem quer iniciar 2012 se deparando com uma escrita apaixonada e divertida sobre aquele assunto que interessa a todo ser humano saudável. Olha eu cometendo o erro da generalização novamente...