segunda-feira, 19 de março de 2012

Millennium I - Os homens que não amavam as mulheres, de Stieg Larsson



Millennium I – Os homens que não amavam as mulheres é o primeiro livro da trilogia Millennium, de Stieg Larsson.  O título pode levar você a crer que se trata de um água com açúcar para o público feminino. No entanto, é um livro sobre violência. Sobre as sujeiras do mundo econômico. É um livro sobre vingança e/ou justiça. Sobre mistério e investigação. Doença, natureza e sociedade. E, com tudo isso, um livro impossível de ser abandonado antes do término, considerando o teor agradável da leitura.

Henrik Vanger contrata o simpático jornalista Mikael Blomkvist para desvendar o assassino de sua sobrinha Harriet Vanger que, vale enfatizar, só poderia ser alguém da família. A principio, é um romance policial sobre um crime de família. No entanto, Larsson desenvolve a história numa escrita leve e absolutamente sedutora que nos enlaça do início ao fim, não permitindo nenhuma distração e, melhor, deixando o leitor cada vez mais ansioso pela solução dos numerosos mistérios que envolvem o principal, o que, somado às situações que chocam, constrangem, divertem, irritam, nos fazem vibrar, dá consistência ao que poderia ser um mero suspense.

A ágil história é conduzida por personagens autênticos e agradáveis. Lisbeth Salander, a minha favorita, surge no romance como na vida dos outros personagens, parecendo não lá muito importante e, de repente, revela uma eficiência aqui, uma qualidade ali, força, fragilidade, inteligência e, pronto, nos cativa. Mikael é a boa e divertida companhia de que precisamos. Henrik, um doce. Há, certamente, os repugnantes, os estranhos e aqueles que a gente não consegue compreender. Cada personagem com sua particularidade cuidadosamente construída, com seus defeitos humanamente compreensíveis, com atitudes socialmente (in)aceitáveis.

Os homens que não amavam as mulheres é bem amarrado, valoriza os detalhes, tornando a investigação atenta e inteligente. Sem nenhuma falha (pelo menos que eu tenha conseguido identificar) nas pistas e nos fatos, nos surpreende constantemente sem que para isso precise nos subestimar.

No ônibus, no trabalho, antes de dormir. 522 páginas que não pesam, que não exigem um ambiente propício para serem lidas, que se adéquam a qualquer situação. 522 facilmente devoradas por qualquer leitor que seja munido de um pouco de curiosidade. 522 que merecem estar entre as mais vendidas. 

Ps: Depois da leitura, não deixe de apreciar o filme do renomado David Fincher:


sábado, 10 de março de 2012

Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf


"Sempre sentira que era muito, muito perigoso viver, por um só dia que fosse"

Anos 20, pós-primeira guerra mundial, um dia em Londres. Um dia quase banal se não fosse pela festa que Clarissa Dalloway tinha que organizar. Mas há mesmo na vida um dia banal quando nossos pensamentos nos levam a todo lugar, do inferno ao céu em segundos? Assim o livro nos conduz, passando de uma mente a outra, entrando no íntimo dos personagens através de seus pensamentos e anseios. E não há nada mais pessoal, revelador e solitário do que isso.

Acompanhamos os personagens, andando por Londres e moldando a vida da Mrs. Dalloway do título, inclusive pela própria. É um rascunho de uma época e uma obra prima de um ser humano. "Não desejava morrer, a vida era boa, o sol aquecia, se não fosse os seres humanos...". Sem dúvida Mrs Dalloway era muito mais do que uma anfitriã e, sem dúvida, um dia pode ser uma vida.

E acho que essa minha vontade de ser sucinta e fazer poesia em uma resenha vem da tradução do livro a cargo de Mario Quintana.

"Este é um privilégio da solidão: pode a gente fazer o que bem nos parece. Pode-se até chorar, se ninguém está olhando"

sexta-feira, 2 de março de 2012

Por favor, Cuide da Mamãe, de Kyung-sook Shin

"Ame, enquanto puder amar" (Franz Liszt)

Ninguém havia recomendado, sequer tinha ouvido falar do livro. Também não conhecia a autora, nem nunca tinha lido algum livro coreano. Foi título que me saltou os olhos e, sem titubear, firmei compromisso de leitura. Foi um tiro no escuro, mas atingiu ao alvo.

Pelo pouco que sei, Kyung-sook Shin já escreveu vários livros, é aclamada na Coréia do Sul e Por Favor, Cuide da Mamãe vendeu mais 1,5 milhões de cópias pelo mundo. Esse também é o primeiro (e até agora único) livro dela publicado no Brasil.

O livro é sobre a busca por uma senhora de 69 anos, mãe de cinco filhos já adultos que desaparece no metrô de Seul. Mas não é simplesmente sobre o enigma de seu sumiço, é sobre como seus parentes se dão conta que já a haviam perdido há muito tempo. É sobre o sacrifício, amor e dedicação incondicional de uma mulher aos filhos. É sobre o remorso. É sobre sentimentos conflitantes. É sobre o ser humano. É sobre família e suas complexidades emocionais.

Tendo foco nos pontos de vista de uma filha, de um filho, do marido e da própria desaparecida, o livro é de uma riqueza lírica perturbadora. Tão melancólico e real que dói, mas também ensina. Mesmo sem apelar, sempre sutil e verossímil (muito verossímil), o livro é de uma carga emocional forte. É possível sentir cada palavra, por isso, devastado, no final das contas, o leitor não quer saber o que aconteceu com Mamãe ou onde ela estar, mas sim como se sente. E, se possível, atender ao pedido do título e cuidar de mamãe.