domingo, 24 de fevereiro de 2013

Yossi & Jagger- delicada relação(2002) e Yossi (2012)

                              

Yossi & Jagger- delicada relação(2002) e Yossi (2012) são dois filmes que me comoveram bastante, ambos dirigidos por Eytan Fox. O primeiro é baseado em uma história real que desconheço, confesso. O segundo, como você já deve supor, é uma continuação.

Yossi e Jagger são soldados que estão abrigados em uma base militar que fica na fronteira de Israel com Líbano. Yossi é o comandante do grupo. Rígido, não cogita a hipótese de assumir sua opção sexual e muito menos a do relacionamento com Jagger que sonha com uma vida a dois, cobra demonstrações de amor e se revela mais sensível.  

É um filme curto, mas intenso. Eytan Fox valoriza as pequenas, porém significativas, coisas do amor, aquelas que são o diferencial entre um casal e outro, aquelas que ficam nas lembranças, as do saudosismo. Uma brincadeira boba, uma música, a revelação de um sonho, um pedido.  Direção e roteiro(Avner Bernheimer, Natan Elkanovich, Yaron Scharf) ultrapassam os preconceitos que existem sobre homossexuais, quebram com uma sensibilidade encantadora a barreira que muitos criam (nós x eles) e, com isso, conseguiram me envolver sem as discussões clichês sobre opção sexual, sem grandes feitos que deveriam arrancar choros ensurdecedores. Envolvem com o pouco. Envolvem quando me identifico, quando respeitam o amor, o ser absolutamente humano.


Quanto a Yossi (2012), prefiro não relatar a sinopse para não informar o desnecessário. Também não é um filme extenso, no entanto é mais arrastado, o que não se trata de um demérito, pois a continuação da história pede isso, Yossi está se arrastando. Portanto, Eytan é novamente feliz, agora com o roteiro de Itay Segal.

Yossi (2012) traz o constrangimento diante de uma humilhação, a insegurança, a falta de confiança em si mesmo; a magia do primeiro olhar, a conquista; a dificuldade de superar uma perda, de lidar com ela; a chance, as oportunidades. Imagino que seja impossível não se identificar em pelo menos algum momento. Dessa forma, considero tão bonito quanto o primeiro, me fez chorar menos porque o desfecho era outro, mas comoveu o suficiente para deixar um gostinho de quero mais.

Sinceramente, não lembro de ter assistido a um filme que tenha conseguido demonstrar um relacionamento homossexual com tamanho respeito e naturalidade. Aliás, estou aqui batendo nessa tecla porque brigo constantemente pelos direitos gays e também porque vejo muitos absurdos por aí, mas os filmes não batem, não se prendem nessa questão, uma das razões para que eu lhes atribua as qualidades citadas no texto. São filmes sobre o amor, sem a “melação” habitual e a pornografia que você deve estar imaginando encontrar. Recomendo, adorei!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A idade da razão, de Jean Paul Sartre



Sabe aquela leitura maçante daquele texto tão importante quanto chato intitulado O Ser e o Nada? Pois é, você não a encontrará nos textos literários de Sartre. E sabe toda aquela filosofia apaixonante, característica de seu pensamento? Essa sim você encontrará, o que revela um Sartre, no mínimo, talentoso.

Em A idade da razão, acompanhamos a trajetória de Mathieu em busca de dinheiro para que sua namorada possa realizar um aborto. A história já inicia com a notícia da gravidez e a aparentemente natural decisão de interrompê-la, sem que durante muito tempo se considere outra possibilidade de solução para o “problema”. Em seu decorrer, conhecemos o casal que possui uma relação teoricamente descompromissada e, portanto, cômoda há anos. Fui levada a compreender e questionar essa dinâmica sem que fosse tomada pela ira, inconformismo e o drama que a situação poderia gerar.

Mathieu está no que julga ser a idade da razão e o que ele entende por isso explica seu comportamento diante da decisão do aborto e a maneira com que conduziu toda sua vida. As escolhas do personagem e o enfrentamento dos resultados, exemplificam o conceito de liberdade do filósofo J. P. Sartre e nos levam a pensar em outras questões existenciais.

Entre as pessoas que o personagem recorre, está seu irmão que possui o dinheiro e, entretanto, uma opinião contrária não só a decisão de Mathieu, mas à todas suas convicções responsáveis pelo que é e vive.

A idade da razão, assim como as demais obras literárias de Sartre, não é um livro exclusivamente para Filósofos. Aliás, nesse caso, esqueça os Filósofos se a palavra lhe der a ideia de qualquer tipo de hermetismo.  É um romance para aqueles que gostam de histórias bem construídas e contadas, o que ouso afirmar ser uma especialidade de Sartre.

O que fica é a já conhecida reflexão de que não tomar uma determinada decisão se trata de uma escolha que implicará consequências como qualquer outra. A passividade é também uma opção e o difícil é ter consciência disso ao invés de simplesmente argumentar que “as coisas aconteceram”, “fugiram do controle”.  

O que enlaça é: fará ou não o aborto? E penso que já informei demais até aqui!

Resenha: Estopim - Carla Dias

2012 foi, definitivamente, o ano em que eu amarguei meu mais baixo índice de leituras, desde que fui alfabetizada. Custei a me organizar dentro das tantas mudanças que ocorreram na minha vida, de modo que minha grande paixão foi deixada de lado. Uma das metas para 2013 era recuperar as leituras perdidas e dei início por aqueles livros que eu havia ganhado ou comprado no ano passado. 



Um deles foi o Estopim, da escritora paulista Carla Dias, que ganhei de presente da própria. Confesso que eu estava com um pouco de medo de ler este livro e explico. O último livro que li da Carla foi o Jardim de Agnes, em 2010. Até hoje me lembro das emoções que eu senti ao ler aquele livro, de como a protagonista, Agnes, me tocou profundamente e de como este livro furou uma fila imensa e foi de cara figurar entre os livros que mais gostei na vida. Ou seja, eu tinha uma expectativa muito alta em relação ao Estopim e, como todo mundo sabe, expectativa anda de mãos dadas com o medo da decepção.

Mas era preciso me desapegar de Agnes e me deixar envolver por Olavo, o narrador-personagem de Estopim. Quem é Olavo? Olavo é apenas mais um entre os milhões de habitantes da cidade de São Paulo e não faz a menor questão de ser qualquer coisa além disso. Vive sem planos ou pretensões com seu salário de operador de telemarekting - embora seja formado em História. Empurra a vida com o peso de alguém que foi abandonado algumas vezes. Primeiro pelo pai, que fugiu quando ele ainda era criança. Depois pelo irmão, que mudou-se para a Europa quando descobriu ser filho de outro pai. Abandonos deliberados. Depois pela mãe que morreu vítima de uma doença. Depois pela primeira namorada, que morreu vítima de bala perdida. Abandonos involuntários. 



E com essa premissa, poderíamos supor que se trata de um livro sobre abandono. Mas então o irmão que foi embora decide voltar, agora um astrônomo famoso. Na monotonia do seu trabalho, Olavo se vê envolvido com Julia, a acrobata, uma cliente de quem só conhece a voz, mas mudará a sua vida. E numa ida à locadora - por sugestão de Julia - conhece Gilda. E desses encontros, tramas surpreendentes se desenrolam,  sugando Olavo de sua existência retilínea para um universo no qual se vê obrigado a lidar com crimes, paixões e reencontros inesperados. E então o leitor descobre que não é um romance sobre abandono, mas exatamente o contrário disso.



Não vou falar mais sobre o livro porque, de verdade, gostaria que todo mundo tivesse a oportunidade de lê-lo. Meu medo de me decepcionar foi para as cucuias pois já nos primeiros capítulos percebi que era a mesma Carla do Jardim de Agnes: com uma capacidade incrível de criar personagens absolutamente humanos e profundos.  Nos livros da Carla, não existem figurantes. Todos os personagens estão ali por algum motivo, com história, presente e futuro. Tudo embalado pelo ritmo gostoso da Carla que escreve um livro inteiro, como se fosse uma poesia.

"Chove a cântaros e há encantos. Ela sabe muito bem o que eu quero e eu quero muito bem ao que ela sabe. Há entre nós essa sincronia abandonada pelo desvelo e nos negamos a reconhecê-la - bordas, brio, descabimento - , pois teríamos de reavaliar cada segundo e cada sentimento já desfiado com um certo alheamento".

Para quem quiser conhecer um pouco da escrita da Carla, ela escreve toda quarta-feira no Crônica do Dia, o mesmo site para onde eu escreve quinzenalmente às quintas (sim, é uma grande responsabilidade escrever justamente depois dela). Os livros dela foram publicados graças à seleção da Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo, por meio do edital ProAC. Dá muito orgulho ver uma pessoa próxima escrevendo obras incríveis como essas e conseguindo apoio para a publicação. Porque, sabemos, não é fácil não...

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O Lado Bom da Vida, de Matthew Quick (livro e filme)



"Dói olhar para nuvens, mas também ajuda, como a maioria das coisas que causam dor"

Algo que é muito alardeado por nós amantes de livros é que os livros são sempre melhores que os filmes inspirados neles. Exagero. E como já diria o sábio Simplício de A Luneta Mágica, de Joaquim Manuel de Macedo: "Exagerar é mentir". E O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook) vem comprovar isso. Gostei do livro, achei simpático, com bons momentos e uma grande premissa. A execução, no entanto, teve suas falhas, mas nada que anule o prazer da leitura. Só que o filme foi além e conseguiu até contornar algumas falhas do livro.

Pat (Bradley Cooper) é um professor de 30 e poucos anos recém saído de uma clínica para pessoas com problemas mentais, ele é bipolar e teve uma grave crise que culminou no fim de seu casamento. Ele também é um otimista incurável, ele acredita em finais felizes e que o filme da sua vida está caminhando para isso, e o final feliz para ele seria voltar para sua ex. Pois é, otimistas também são depressivos - mais uma “verdade” que vem abaixo nesse texto. 

A graça da história está nas interações de Pat com os demais personagens: seu alegre companheiro de clínica; sua dedicada mãe; seu distante pai; seu bem sucedido irmão; seu terapeuta e companheiro de torcida pelo Eagles; e, especialmente Tiffany (Jennifer Lawrence), uma viúva maníaca depressiva (salvo engano, não lembro bem como a diagnosticaram), e os dois, cada um com sua “insanidade”, vão caminhando (ou melhor, correndo e dançando) juntos nessa loucura que é viver. 

Uma das diferenças entre o livro e o filme é a forma que trazem e contornam esses personagens, e o pai de Pat é que sofre a maior mudança de uma mídia pra outra. No livro ele é um cara que mal interage com o filho e é dolorido acompanhar essa relação, já no filme de David O. Russel (diretor também do bom e premiado O Vencedor), ele adquire um tom mais terno e carinhoso, provavelmente porque Russel tenha um filho com problemas semelhantes ao de Pat.

Boa parte das críticas negativas que ouvi por aí sobre filme dizia respeito a sutiliza, simplicidade ou leveza da história, já que uma temática como essa deveria ser mais sombria e pesada. Sim, o filme e o livro poderiam ter ido por esse caminho e poderia ter se saído bem, mas ir pelo caminho menos nebuloso e mais afável também foi uma boa escolha e não desmerece suas oito indicações ao Oscar 2013 (filme, diretor, ator, atriz, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, roteiro adaptado e edição) só por isso, ou vamos também ter que questionar todos os prêmios e méritos do Woody Allen, por exemplo. 

O Lado Bom da Vida é mais comédia romântica do que qualquer outra coisa sim, só que dentro desse gênero tão batido e tão seduzido por clichês, ele consegue se diferenciar. Ouso dizer que é mais difícil fazer rir do que fazer chorar, e fazer rir e chorar no mesmo filme, então... O livro é uma dramédia disfuncional, e o filme é  divertido e sensível, e isso deve bastante ao roteiro e especialmente aos seus atores, até Robert De Niro (no papel de Pat pai), como disse Isabela Boscov, resolveu voltar atuar e não apenas trabalhar burocraticamente como ator. O fato é que saí do cinema tocada pela história (mesmo já tendo lido o livro!) e adorando todos aqueles personagens. 


"O mundo quebrará seu coração de dez maneiras diferentes, isso é uma certeza. E não posso começar a explicar isso ou a loucura dentro de mim e dos outros."

p.s. Em geral, eu não gosto de capas de livros iguais aos pôsteres dos filmes, mas abro feliz uma exceção para O Lado Bom da Vida. Confesso que a beleza de Bradley Cooper foi um fato crucial nessa minha decisão. 
p.p.s. Agora temos uma página no facebook, curtam !

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

João e Maria e os contos de fadas no cinema



Numa das primeiras conversas que eu tive com meu marido na vida, eu fiz alguma referência a João e Maria (não me pergunte porque diabos eu estava falando de João e Maria numa conversa onde havia a intenção de conquista por ambas as partes mas, enfim, sou mestre em falar coisas nada a ver em contextos nada a ver). O que quero contar é que me lembro dele reagir com estranheza, perguntando: "quem são esses?" para cair na risada depois que eu expliquei e ele concluiu "aahhh, Hansel e Gretel". 

Ele é chileno e, apesar de para o espanhol também existirem algumas traduções bizarras (um dia farei um post sobre isso), até hoje ele não aceita essa versão abrasileirada para os nomes dos personagens.

Bom, confesso que nesse momento eu faria uma grande conexão entre um assunto e outro, para contar que assisti ao filme João e Maria - Caçadores de Bruxas (Hansel y Gretel - Cazadores de Brujas, no caso, já que vi aqui no Chile), mas não estou lembrando qual seria essa conexão, então meio que vou mudar de assunto bruscamente. 

Vi o filme. Estava com grande expectativa por dois motivos. Primeiro porque tenho lido que ele tem sido o campeão de bilheterias no Brasil desde a estreia e me parece que aqui não é diferente. Como já comentei em outro post, fui tentar ver o filme na semana passada e estava esgotado. E, vejam bem, o povo aqui não é nada afobado. Eu vi Amanhecer na pré-estreia com a sala relativamente vazia.

Segundo que para mim seria um filme de desempate em relação à minha opinião sobre essas releituras dos clássicos dos irmãos Grimm que, ao que parece, estão na moda. A Garota da Capa Vermelha, de 2011, eu achei excelente. Bem fiel à história verdadeira, mas com muita ação e suspense. 



Já a Branca de Neve, coitada, depois de dois filmes recentes Espelho, Espelho Meu e Branca de Neve e o Caçador, continuo preferindo mil vezes o desenho da Disney. O primeiro, eu comecei a ver num avião e nem terminei. O segundo, amarguei por duas horas a mesma cara de sempre da Kristen Stewart.  



O que posso dizer é que o empate continua, porque fiquei no meio termo com João e Maria. O filme tem um enredo fácil, uma trama que se desenrola sem muitos imbróglios, o que me fez pensar que pudesse ser um filme voltado mesmo para crianças (o que não considero um demérito). Mas o fato de ter até uma semi-nudez e cena de sangue explodindo na cara das pessoas me deixou na dúvida se a intenção era mesmo essa. A propósito, achei essas cenas de sangue a algumas maquiagens de bruxas um pouco trash, mas isso garante ao filme um certo humor. Dá para se divertir. João e Maria não chega a ter um mistério envolvente como A Garota da Capa Vermelha, mas é um bom entretenimento. 

Ah, antes que eu me esqueça, minha irmã - que é diabética e profissional da saúde me deu uma explicação (ratificada pelo seu médico Levimar Araújo, Presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes) que, ao contrário do que mostra no filme, uma pessoa não vira diabética por ter comido muito doce, como aconteceu com o João. Uma desinformação desnecessária, já que eu não entendi qual a relevância para o filme dele ser diabético. A menos que isso tenha alguma importância em filmes futuros, já que eu li por aí que existe a intenção de transformar João e Maria numa franquia.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Vídeo-resenha: Johnny Depp e Verissimo

(Eu sei que, de acordo com a já não tão nova reforma ortográfica eu deveria escrever vídeorresenha. Mas me recuso. Posto isso, vamos ao assunto):

Gravei este vídeo falando sobre os dois primeiros livros que li este ano, que foram "Diálogos Impossíveis" (Verissimo) e Johnny Depp - Biografia não-autorizada (Danny White). O vídeo conta algumas curiosidades, especialmente da biografia. Como gosto muito do Johnny Depp, achei que seria legal partilhar com vocês alguns episódios da vida dele.

(Queria agradecer ao maridon, que me ajudou a editar o vídeo).


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Filme: O Impossível


Considerei péssima a ideia de assistir ao filme "O Impossível" justo nessa semana. Justo quando estamos particularmente sensibilizados com essas tragédias que tomam centenas de vidas de assalto numa leva só. Justo quando questionamentos do tipo "Por que dessa forma?", "Por que aquelas pessoas?", "Por que naquele momento?" aparecem para tirar o sono. De repente, uma onda, de água ou de fogo e, pá, é o fim.

Senão o fim da vida, ao menos o fim da vida que se tinha antes. Não dá para viver uma coisa assim e continuar o mesmo. É o que eu imagino. Imagino também que o filme - que conta a história de uma família que vivenciou o tsnami no Ocenado Índico, em 2004 - retrata com bastante realismo o que é estar no meio de uma tragédia natural daquelas proporções. Em diversos momentos me senti angustiada, agoniada, com dificuldade em manter os olhos na tela. "O Impossível" exige do telespectador uma boa dose de sangue frio. Um mérito, obviamente. Um filme com essa temática não poderia deixar de provocar alguma emoção. 

Eu alternava dois tipos: ou estava aflita ou chorando. Chorando especialmente nas cenas que envolvem as crianças. Embora o que venha chamando atenção de quem entende tenha sido a atuação da Naomi Watts que, inclusive, recebeu uma indicação ao Oscar pelo seu papel como a mãe dessa família espanhola...ops....inglesa. Aí está uma falha do filme. Apesar da verdadeira família Bennet ter origens hispânicas, no filme são ingleses, lindos e loiros. Óbvio.

Outro ponto que a Sam comentava comigo e eu concordei plenamente é a forma como os nativos do local são colocados no filme como elementos totalmente imparciais ao desastre. Eles estão ali, tranquilos, solidário com a dor dos ingleses-lindos-e loiros, como se as maiores vítimas não tivessem sido eles. Óbvio, vítimas são vítimas, independente de raça, nacionalidade ou qualquer outra "divisão" sem sentido, mas ainda acho que houve uma certa falta de cuidado nesse aspecto.

No geral, achei um filme bom e supertriste, do tipo que nos deixa gratos pelo simples fato de estarmos vivos (como se a realidade não fosse dura o suficiente para provocar esse tipo de sensação. Mas, enfim, talvez o cinema e qualquer outro tipo de arte sirva mesmo para isso, nos tocar mais sensivelmente).

Na próxima semana, espero assistir ao filme "João e Maria: Caçadores de Bruxa", que foi o que me levou ao cinema mas estava com ingressos lotados. Então veio a péssima ideia de assistir "O Impossível". Justo essa semana.




Segundo o querido Google, essa é a família que inspirou o filme.





terça-feira, 29 de janeiro de 2013

José e Pilar, dirigido por Miguel Gonçalves Mendes



Encontrei José e Pilar num blog que com muita frequência me direciona e a bons filmes, o Laranja Psicodélica. A existência do filme não me era desconhecida, mas até assistir não soube direito do que se tratava, tinha certeza de que a história do casal seria encenada por atores e confesso que fiquei emocionada por ver o próprio casal, na própria realidade, em cena e longe de estar encenando.

José e Pilar é um longa-metragem documental que mostra como era a vida de José Saramago e sua esposa Pilar Del Rio, tendo como ponto de partida e também central a produção do livro “A viagem do Elefante”- que por sinal não li. Todo esse processo nos revela a identidade, a intimidade de um relacionamento fundamentado no companheirismo que só o amor pode proporcionar.

O gigante da literatura, polêmico e um dos meus ídolos, se revela ainda mais apaixonante. A preocupação em terminar o livro, a dedicação e disciplina só permitem conhecer um Saramago a altura de suas obras. Um José que soube envelhecer, consciente como pouquíssimos de nós somos. Grato, terno, bem humorado. Alguém que sustentou suas opiniões e convicções até o fim, desprovido da preocupação de simplesmente agradar o mundo.

Pilar é incrível. Sem dúvidas, a mulher que eu gostaria de ser, a companheira que eu gostaria de ter. Feminista assumida, fez com que eu desejasse aplaudi-la mediante suas atitudes e declarações. Aliás, as declarações, de ambos, não apenas sustentam o filme como é característico nos documentais, mas são as responsáveis para que se chegue as constatações que citei, para que se envolva emocionalmente na relação do casal.

O que me resta, depois de uma experiência tão enriquecedora, é agradecer Miguel Gonçalves Mendes por ter insistido em filmar a rotina dos dois, por ter presenteado a nós, fãs de Saramago, com um trabalho tão bonito. José e Pilar é um documento importantíssimo que deve ser acessado não só por curiosidade, pensando em acumular mais algum tipo de conhecimento; mas para entendermos, em meio a confusão que vivemos, o que é companheirismo – palavra chave da história do casal e reavaliarmos o que pensamos, dizemos e somos.

Confiram o trailer:

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Búfalo da Noite, de Guillermo Arriaga



"Nessa quinta-feira vesti a camisa preta, não para desafiar olhares curiosos,
 mas para recordar que nunca é possível extirpar o passado,
 por mais que se queira; que ele permanece como uma queimadura antiga
 a nos arder de vez em quando, e que é melhor viver com ele do que contra ele."

Guillermo Arriaga adora caçar. Adora também repetir e evidenciar isso por aí. E eu adoro tirar conclusões precipitadas.  Tal informação sobre o autor me fez deduzir que a obra em questão era sobre caças e isso fez com que eu não me interessasse pela leitura. Contudo, estava enganada. Trata-se de um mergulho no ser humano.

O Búfalo da Noite tem como protagonista um jovem suicida, Gregório, que permanece mais vivo do que quando o era de fato na vida de seu melhor amigo, Manuel, e de Tânia, namorada de ambos, embora oficialmente do primeiro. O triângulo, como na maioria dos casos, acaba tomando proporções que abalam o controle emocional dos personagens. Entretanto,  o diferencial da obra está nos conflitos que começam após o suicídio de Gregório, ou seja, quando teoricamente tudo deveria estar resolvido e com direito a um final feliz.

Carregado de sentimentos e atitudes intensas e extremamente íntimas, o livro não possui uma narrativa arrastada – característica de muitas obras que se dedicam ao ser humano e suas loucuras -. Pelo contrário, é ágil, nos amarra através da curiosidade que é despertada a cada instante. É curiosamente profundo e, por vezes, incômodo e reflexivo.

Arriaga possui um estilo de contar histórias que é de forma não-linear, o que me agrada muito, pois ficamos sempre tentados a entender o que a princípio parece caótico, inexplicável. O antes e o depois se confundem, levando-nos a compreender a trama sem a certeza de que realmente estamos compreendendo-a, o que julgo apaixonante num autor.  Trabalhos como os roteiros da trilogia cinematográfica Amores Brutos, 21 Gramas, BabelOs três enterros de Melquiades Estrada ou o livro Um doce Aroma de Morte são grandes exemplos -embora eu não goste muito de Babel. Não sabemos o que ele nos reserva para o final e se reserva alguma surpresa, porque a questão está sempre ali, no dia a dia, nas atitudes que imploram para serem revistas quando já não se pode alterar o curso das coisas.

O Búfalo da Noite contém todas essas características. Entendemos os acontecimentos gradativamente, por meio de flashbacks e, ao mesmo tempo, surgem outras dúvidas acerca da história e também da vida em si.

É um livro que nos mostra o quanto é tênue a linha que separa a lucidez da loucura, o quanto estamos próximos da segunda e podemos ser seduzidos, envolvidos por ela. É sobre a dimensão, intensidade e incompreensão da morte, dos relacionamentos, moral e sentimentos que o envolvem. É o tipo de livro que após ser lido, gosta de revisitar nossos pensamentos mais algumas vezes.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Novidades e mudanças

Voltamos! A Biblioteca virou Combo. A mudança de nome veio da vontade de expandir nossos pitacos e falar também sobre outras coisas que nos encantam, além dos livros. Além da abrangência de temas, estamos pensando também em outros formatos. Um deles será o vlog. Mais ou menos assim: