sábado, 25 de fevereiro de 2012

A Estrela Mais Brilhante do Céu, de Marian Keyes


"E um dia todos nós vamos estar mortos e nada disso vai ter a menor importância"

Estava pegando alguns livros emprestados com uma amiga e pedi a ela um cuja leitura fosse me deixar feliz. Ela ofereceu A Estrela Mais Brilhante do Céu com ressalvas. Afinal, tanto eu quanto ela sabemos que Marian Keyes tem a tendência de ir fundo em assuntos pesados que poderia deixar qualquer um depressivo, mas, por outro lado, também nos oferece uma espécie de compreensão e redenção. Como se um livro fosse capaz de ter empatia por alguém, oferecer um ombro, algo assim. E gosto de atitudes do tipo, pois quando alguém está passando por certos momentos o que mais se quer é ser compreendido e acolhido. E livros podem fazer isso? Certamente melhor do que algumas pessoas.

Chick Lit é como se chama o gênero literário voltado, dizem, para mulheres. São as comédias românticas da literatura por assim dizer. Mas, além do fato de geralmente vir com uma roupagem de preconceito, o termo é meio limitador. Como em todo gênero literário, nesse também existem bons e maus livros, bons e maus escritores. Marian Keyes fica no primeiro grupo.

Se você não está familiarizado com o estilo da escritora, resumidamente, como a própria diz, ela costuma escrever comédia sobre algo sério. Existem os livros dela que são mais, digamos, "mulherzinha", nessa leva temos: Melância, Casório?! e Los Angeles, e, mesmo assim, ainda caminham por temas espinhentos. Por que não há nada leve em traição, separação e depressão pós-parto, certo? Mas existem também ( e esses são os meus preferidos) os mais sombrios, que falam de assuntos como drogas, violência sexual, depressão, morte. Dessa leva, destaco Férias! (um mergulho e um retorno do fundo do poço de um vício), Tem Alguém Aí? (uma sensível história sobre o luto) e o próprio A Estrela Mais Brilhante do Céu.

O livro tem um narrador intrigante que, na sua misteriosa missão, nos leva a conhecer os moradores de um prédio em Dublin, mas especificamente na Star Streat, 66. Quatro andares. No primeiro, o casal Matt e Maeve, simpáticos e apaixonados, mas algo está errado naquela harmonia de corações. No segundo, Jemima, uma senhora marcada pela vida em seus mais de 80 anos, e seu cachorro, chamado Rancor, irão receber a visita do bonito, mas perdido Fionn, filho adotivo de Jemima. No terceiro, a jovem batalhadora, destemida e rude Lydia divide o apartamento com Jan e Andrei, poloneses musculosos, sensíveis e com saudades de casa. No quarto e último andar, a sensata Katie vive sozinha e acaba de completar 40 anos. Em comum? Eu diria que eles estão, no mínimo, insatisfeitos. Alguns realmente depressivos. Tristes com a vida que levam, com todo peso do passado, presente e futuro que têm sob si. Menos Jemima que parece ser mais resignada. Mas alguns deles estão tão insatisfeitos com a vida que sentem alivio em arriscá-la em sinais de transito ou ficam imaginando quantos bolos de chocolate alguém tem que comer para morrer.

Acompanhar a jornada desses personagens nos oferece passagens ora sufocantes, ora divertidas. Um dos livros mais densos de Keyes, sem dúvidas, que mostra maturidade, sem perder a leveza da juventude.

Na contracapa de A Estrela... a autora alerta que é impossível escolher seu livro preferido, seria como uma mãe ter que escolher entre um de seus filhos, no entanto, revela que este era o seu preferido. Eu sei, o nome não ajuda, a capa também não passa lá muita credibilidade, fica difícil o levar a sério e nem sei se é essa a intenção, mas não vá lê-lo achando que é mais uma história bobinha para menininhas, muito menos achando que será o próximo ganhador do prêmio Nobel. Vá sem expectativa, afinal, "um dia todos nós vamos estar mortos e nada disso vai ter a menor importância". Mas se eu fosse você, leria mesmo assim.