quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Filme: O Impossível


Considerei péssima a ideia de assistir ao filme "O Impossível" justo nessa semana. Justo quando estamos particularmente sensibilizados com essas tragédias que tomam centenas de vidas de assalto numa leva só. Justo quando questionamentos do tipo "Por que dessa forma?", "Por que aquelas pessoas?", "Por que naquele momento?" aparecem para tirar o sono. De repente, uma onda, de água ou de fogo e, pá, é o fim.

Senão o fim da vida, ao menos o fim da vida que se tinha antes. Não dá para viver uma coisa assim e continuar o mesmo. É o que eu imagino. Imagino também que o filme - que conta a história de uma família que vivenciou o tsnami no Ocenado Índico, em 2004 - retrata com bastante realismo o que é estar no meio de uma tragédia natural daquelas proporções. Em diversos momentos me senti angustiada, agoniada, com dificuldade em manter os olhos na tela. "O Impossível" exige do telespectador uma boa dose de sangue frio. Um mérito, obviamente. Um filme com essa temática não poderia deixar de provocar alguma emoção. 

Eu alternava dois tipos: ou estava aflita ou chorando. Chorando especialmente nas cenas que envolvem as crianças. Embora o que venha chamando atenção de quem entende tenha sido a atuação da Naomi Watts que, inclusive, recebeu uma indicação ao Oscar pelo seu papel como a mãe dessa família espanhola...ops....inglesa. Aí está uma falha do filme. Apesar da verdadeira família Bennet ter origens hispânicas, no filme são ingleses, lindos e loiros. Óbvio.

Outro ponto que a Sam comentava comigo e eu concordei plenamente é a forma como os nativos do local são colocados no filme como elementos totalmente imparciais ao desastre. Eles estão ali, tranquilos, solidário com a dor dos ingleses-lindos-e loiros, como se as maiores vítimas não tivessem sido eles. Óbvio, vítimas são vítimas, independente de raça, nacionalidade ou qualquer outra "divisão" sem sentido, mas ainda acho que houve uma certa falta de cuidado nesse aspecto.

No geral, achei um filme bom e supertriste, do tipo que nos deixa gratos pelo simples fato de estarmos vivos (como se a realidade não fosse dura o suficiente para provocar esse tipo de sensação. Mas, enfim, talvez o cinema e qualquer outro tipo de arte sirva mesmo para isso, nos tocar mais sensivelmente).

Na próxima semana, espero assistir ao filme "João e Maria: Caçadores de Bruxa", que foi o que me levou ao cinema mas estava com ingressos lotados. Então veio a péssima ideia de assistir "O Impossível". Justo essa semana.




Segundo o querido Google, essa é a família que inspirou o filme.





terça-feira, 29 de janeiro de 2013

José e Pilar, dirigido por Miguel Gonçalves Mendes



Encontrei José e Pilar num blog que com muita frequência me direciona e a bons filmes, o Laranja Psicodélica. A existência do filme não me era desconhecida, mas até assistir não soube direito do que se tratava, tinha certeza de que a história do casal seria encenada por atores e confesso que fiquei emocionada por ver o próprio casal, na própria realidade, em cena e longe de estar encenando.

José e Pilar é um longa-metragem documental que mostra como era a vida de José Saramago e sua esposa Pilar Del Rio, tendo como ponto de partida e também central a produção do livro “A viagem do Elefante”- que por sinal não li. Todo esse processo nos revela a identidade, a intimidade de um relacionamento fundamentado no companheirismo que só o amor pode proporcionar.

O gigante da literatura, polêmico e um dos meus ídolos, se revela ainda mais apaixonante. A preocupação em terminar o livro, a dedicação e disciplina só permitem conhecer um Saramago a altura de suas obras. Um José que soube envelhecer, consciente como pouquíssimos de nós somos. Grato, terno, bem humorado. Alguém que sustentou suas opiniões e convicções até o fim, desprovido da preocupação de simplesmente agradar o mundo.

Pilar é incrível. Sem dúvidas, a mulher que eu gostaria de ser, a companheira que eu gostaria de ter. Feminista assumida, fez com que eu desejasse aplaudi-la mediante suas atitudes e declarações. Aliás, as declarações, de ambos, não apenas sustentam o filme como é característico nos documentais, mas são as responsáveis para que se chegue as constatações que citei, para que se envolva emocionalmente na relação do casal.

O que me resta, depois de uma experiência tão enriquecedora, é agradecer Miguel Gonçalves Mendes por ter insistido em filmar a rotina dos dois, por ter presenteado a nós, fãs de Saramago, com um trabalho tão bonito. José e Pilar é um documento importantíssimo que deve ser acessado não só por curiosidade, pensando em acumular mais algum tipo de conhecimento; mas para entendermos, em meio a confusão que vivemos, o que é companheirismo – palavra chave da história do casal e reavaliarmos o que pensamos, dizemos e somos.

Confiram o trailer:

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Búfalo da Noite, de Guillermo Arriaga



"Nessa quinta-feira vesti a camisa preta, não para desafiar olhares curiosos,
 mas para recordar que nunca é possível extirpar o passado,
 por mais que se queira; que ele permanece como uma queimadura antiga
 a nos arder de vez em quando, e que é melhor viver com ele do que contra ele."

Guillermo Arriaga adora caçar. Adora também repetir e evidenciar isso por aí. E eu adoro tirar conclusões precipitadas.  Tal informação sobre o autor me fez deduzir que a obra em questão era sobre caças e isso fez com que eu não me interessasse pela leitura. Contudo, estava enganada. Trata-se de um mergulho no ser humano.

O Búfalo da Noite tem como protagonista um jovem suicida, Gregório, que permanece mais vivo do que quando o era de fato na vida de seu melhor amigo, Manuel, e de Tânia, namorada de ambos, embora oficialmente do primeiro. O triângulo, como na maioria dos casos, acaba tomando proporções que abalam o controle emocional dos personagens. Entretanto,  o diferencial da obra está nos conflitos que começam após o suicídio de Gregório, ou seja, quando teoricamente tudo deveria estar resolvido e com direito a um final feliz.

Carregado de sentimentos e atitudes intensas e extremamente íntimas, o livro não possui uma narrativa arrastada – característica de muitas obras que se dedicam ao ser humano e suas loucuras -. Pelo contrário, é ágil, nos amarra através da curiosidade que é despertada a cada instante. É curiosamente profundo e, por vezes, incômodo e reflexivo.

Arriaga possui um estilo de contar histórias que é de forma não-linear, o que me agrada muito, pois ficamos sempre tentados a entender o que a princípio parece caótico, inexplicável. O antes e o depois se confundem, levando-nos a compreender a trama sem a certeza de que realmente estamos compreendendo-a, o que julgo apaixonante num autor.  Trabalhos como os roteiros da trilogia cinematográfica Amores Brutos, 21 Gramas, BabelOs três enterros de Melquiades Estrada ou o livro Um doce Aroma de Morte são grandes exemplos -embora eu não goste muito de Babel. Não sabemos o que ele nos reserva para o final e se reserva alguma surpresa, porque a questão está sempre ali, no dia a dia, nas atitudes que imploram para serem revistas quando já não se pode alterar o curso das coisas.

O Búfalo da Noite contém todas essas características. Entendemos os acontecimentos gradativamente, por meio de flashbacks e, ao mesmo tempo, surgem outras dúvidas acerca da história e também da vida em si.

É um livro que nos mostra o quanto é tênue a linha que separa a lucidez da loucura, o quanto estamos próximos da segunda e podemos ser seduzidos, envolvidos por ela. É sobre a dimensão, intensidade e incompreensão da morte, dos relacionamentos, moral e sentimentos que o envolvem. É o tipo de livro que após ser lido, gosta de revisitar nossos pensamentos mais algumas vezes.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Novidades e mudanças

Voltamos! A Biblioteca virou Combo. A mudança de nome veio da vontade de expandir nossos pitacos e falar também sobre outras coisas que nos encantam, além dos livros. Além da abrangência de temas, estamos pensando também em outros formatos. Um deles será o vlog. Mais ou menos assim: