segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Um Dia, de David Nicholls


"Preciso falar com alguém. Alguém, não. Você".


Quem me indicou o livro "Um Dia" foi a Sam. Pra variar. Ela sempre me indica bons livros. A indicação já veio junto com o trailer do filme, que ainda será lançado. Pelo trailer, me pareceu apenas mais uma comédia romântica. O que não é um demérito. Adoro comédias românticas. Pela sinopse, me pareceu apenas mais um livro de chick lit. O que também não julguei ruim. Adoro chik lit.

Comprei o livro e, de cara, fiquei assustada com a quantidade de elogios em fontes cavalares nas primeiras páginas. Aqueles exageros do tipo "Um livro brilhante!", "Fabuloso!" e "Incrivelmente emocionante".

Mas já nos primeiros capítulos, comecei a suspeitar de que, talvez, naquele caso, os comentários não fossem tão exagerados assim. E de que, quem sabe, não fosse só mais uma comédia romântica ou literatura de mulherzinha. Mesmo porque, "Um Dia" foi escrito por um homem. O inglês David Nicholls, que está ficando reconhecido agora, graças a esse romance.

Não por um acaso. Em "Um Dia", Nicholls apresenta uma narrativa impecável, em terceira pessoa, o que, particularmente, julgo muito mais difícil do que escrever em primeira pessoa. Os diálogos são ágeis e amadurecem junto com os personagens. Mas não é sobre isso o que eu queria falar, na verdade. Não sou crítica literária e acho meio arrogante falar em "narrativa impecável" e "diálogos ágeis".

Mesmo porque, o que me tocou não foi o estilo do autor, mas a história. A história de Dexter e Emma. Dois amigos que se conheceram no dia 15 de julho de 1988, data em que terminaram a faculdade. Este é o primeiro capítulo do livro. O segundo, já revela como e onde estavam Dexter e Emma no dia 15 de julho de 1989. E assim, sucessivamente, por todos os 15 de julho, até 2007.

Me emocionei porque sou obcecada por datas e fiquei fascinada por essa ideia. E também pelo principal motivo que nos leva a nos emocionar com um livro: identificação. Me identifiquei muito com as alegrias e frustrações dos personagens, especialmente quando eles estão vivendo seus trinta e poucos anos (embora eu tenha 27). Me identifiquei com a visão que Emma tem da vida. E com a capacidade de Dexter de estragar tudo. E me identifiquei, sobretudo, com os encontros e desencontros que conduzem toda a história e, ao que tudo indica, minha vida também.

O livro intensificou em mim a sensação de angústia que me bate, às vezes, por acreditar que estou perdendo tempo com bobagens, deduzindo erradamente coisas que as pessoas estão pensando/sentindo ou esperando algum acontecimento milagroso que nunca vai acontecer.

Fiquei com uma vontade danada de parar de me desencontrar. Li as últimas páginas aos prantos e chorei mais uns litrinhos ao rever o trailer com o livro já lido. De fato, "Um livro brilhante!", "Fabuloso!" e "Incrivelmente emocionante". Como todas as histórias de amor e amizade devem ser.


sábado, 20 de agosto de 2011

Harry Potter, de J.K. Rowling




"-Ele será famoso. Toda criança do nosso mundo saberá seu nome"
(Minerva McGonagall em Harry Potter e A Pedra Filosofal, de J.K. Rowlling)

Professora McGonagall diz isso já nas primeiras páginas do livro inicial da série mais famosa da atualidade. Ela se referia ao, ainda bebê, Harry James Potter (ou Harry Tiago Potter em versão nacional). O mundo a que ela se referia era o dos bruxos, mas nós trouxas não passamos alheios, pelo contrário, tivemos o prazer de adentrar nesse universo fantástico criado por uma ex-professora britânica.

J.K Rowling, reza a lenda, criou esse mundo mágico em uma viagem de trem. De certo, naquele momento ocioso e tedioso que nos encontramos a mercê de um meio de transporte e que nos leva a recorrer à imaginação para passar o tempo. Como acontece com muitos de nós, a ideia veio, só que ela não tinha caneta e papel a vista, mas, ainda bem, ela conseguiu guardar o essencial daquela viagem inspiradora que veio a resultar em personagens carismáticos e enredos inventivos, garantido sete livros e muita diversão e emoção para crianças, jovens e adultos.

Enquanto Rowlling, em meados dos anos 90, tentava não deixar esvair essas ideias que borbulhavam em sua mente, ela não imaginava que Harry Potter viraria um fenômeno antes do final daquela década. Harry e seus fãs (no original: Harry, a History) tenta dar conta desse fenômeno na visão de uma fã. É um livro com linguagem simples e de narrativa pessoal. Praticamente a jornada de fã da própria autora (Melissa Anelli), semelhante à de milhões de outros, permeada por passagens que narram a trajetória de sucesso da série de J.K. Rolling.

Foi lendo esse livro, um tanto quanto insosso, embora bastante interessante e emocionante em alguns momentos, que me deu vontade de falar sobre Harry Potter, uma série que só comecei a ler depois até de ter deixado a adolescência. É uma bobagem esse preconceito que se tem com os livros de Harry Potter, ainda bem que não me deixei levar por ele e aceitei a sugestão de um amigo da faculdade há uns 5, 6 anos. Esse preconceito é tanto que se teve que criar outras capas (essas pretas que ilustram o post) para que adultos não se sentisse acuados em suas leituras em ambientes públicos.

Lembro que li os quatro (ou seriam cinco? minha memória não é das melhores) livros já lançados em questão de semanas e, veja bem, não são livros curtos, principalmente a partir do quarto. E fiquei ávida pela conclusão.

"Eu tinha uma última pergunta a fazer: Desta vez o que ela espera que as pessoas levem consigo? Ela fez uma pausa, mas a resposta saiu rápido.
- Quando toda a agitação e a balbúrdia acabarem, e quando todos os comentários da imprensa se esgotarem, eu creio que o mundo afinal constatará que esse fenômeno foi gerado, em primeiro lugar, pelo fato de crianças adorarem um livro. Um livro foi para as livrarias e algumas pessoas o adoraram. Quando acabar todo confete e serpentina, isso é o que nos restará. 'E essa é a mais maravilhosa das ideias para um escritor.'"
(Melissa Anelli entrevistando J. K. Rowling em Harry e seus fãs)

Os dois primeiros livros, confesso, não achei essas coisas. Eram divertidos apenas. Embora já achasse genial a ideia de um mundo mágico paralelo ao nosso, cheio de termos, regras, objetos, comidas e lugares próprios e incrivelmente peculiares e curiosos. Uma sociedade alternativa, na qual trouxas, como eu, viviam a margem, sem nem desconfiarmos que nosso vizinho de 11 anos poderia estar recebendo cartas de uma escola de bruxaria. E como a escola Hogwarts era fascinante! Por tudo isso, entendia encanto que exercia sobre as crianças. Mas ainda não era o suficiente.

E aí veio o terceiro livro (O Prisioneiro de Azkaban) e tudo mudou, mesmo. Então o enredo não era tão simples assim, e tudo estava ligado, desde o começo! E um novo leque de personagens cativantes e histórias interessantes foi aberto. Queria saber onde isso ia parar, e queria saber mais sobre aquele universo e sobre aquelas pessoas. Não só referente ao plot central, ou seja, a luta de Harry contra Voldemort. Eu queria saber dos marotos, do atormentado e pacato Remo Lupin (meu personagem preferido), do irônico e enigmático Alvo Dumbledore, do sisudo Severo Snape, da trajetória de Tom Riddle até virar aquele que não deve ser nomeado e sobre as relações de amizade e lealdade tão latentes naquelas páginas. Queria saber também como funcionava esse Ministério da Magia, mais sobre a própria Hogwarts, sobre as criaturas mágicas, feitiços, porções e tudo mais a respeito do mundo bruxo. E tudo foi se aprofundando e ficando mais sombrio no decorrer dos demais livros, mas sem perder o ar mágico do princípio.

E como se os sete livros não fossem o bastante, existe uma série de outros livros sobre Harry Potter por aí, inclusive três escritos pela própria J.K Rowling, são eles: Animais Fantásticos e Onde Habitam, Quadribol Através Dos Séculos e Os Contos De Beedle, O Bardo. Todos eles existentes do mundo bruxo imaginado por Rowling e que demonstram o domínio que ela tem sobre sua criação e o quanto ainda pode explorá-la.

Daí tem os filmes. Sim, eles deixam muito de fora, mas são, em geral, ótimas adaptações. Cada ator realmente incorpora seu personagem, os cenários não poderiam ser mais fiéis ao meu imaginário e tornou tudo mais lúdico. Só tenho birra mesmo com sexto filme que não fez jus a um dos meus livros preferidos (O Enigma do Príncipe). No entanto, livros e filmes caminham em harmonia, algo a se comemorar e destacar, visto tantas adaptações chinfrins de ótimos livros que existem por aí.

Nem sou desses fãs mais aficionados que sabem tudo sobre tudo que envolve Harry Potter, participam de fóruns, se fantasiam, jogam RPG, criam fanfics, escutam ou fazem parte de bandas de wizard rock (sim, sim), enfim, expandem esse universo já tão vasto. Li os livros, vi os filmes, nada muito mais que isso, mas foi uma ótima e encantada jornada. Tanto que recomendo e defendo a série de detratores que, possivelmente, nunca leram um livro sequer da saga. Esses trouxas!

"- Me diga uma última coisa - disse Harry - Isso é real? Ou esteve acontecendo apenas em minha mente?
Dumbledore lhe deu um grande sorriso, e sua voz pareceu alta e forte aos ouvidos de Harry, embora a névoa clara estivesse baixando e ocultando seu vulto.
- Claro que está acontecendo em sua mente, Harry, mas por que isso significaria que não é real?"
(Harry Potter e As Relíquias da Morte, de J.K. Rowlling)


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

2666, de Roberto Bolaño


“Ler é como pensar, como rezar, como conversar com um amigo, como expor suas ideias, como ouvir as ideias dos outros, como ouvir música (sim, sim), como contemplar uma paisagem, como dar um passeio pela praia”

Roberto Bolaño queria que fossem cinco livros, acabou sendo um livro dividido em cinco partes, totalizando 850 páginas na sua versão brasileira. Talvez ainda poucas por tudo que a obra propõe e nos apresenta (há quem diga que realmente é uma obra inacabada, já que póstuma).

Tem crimes, cidades, amores, assassinatos, assassinadas, assassinos, policiais, videntes, jornalistas, escritores, críticos, editores, leitores, livros, detetives, políticos, guerras, loucura e inocência. Fala do passado, da segunda guerra mundial na Alemanha, dos anos 90 numa cidade do México (e um pouco antes e um pouco depois), nos anos 2000 pela Europa, no entanto, é de uma brutalidade contemporânea, e seu título aponta para uma data futura. Mas, no final das contas, creio eu, seja, acima de tudo, sobre literatura. Talvez, violência e literatura. Uma devoção pelos livros e um detalhamento de crimes, guiados pela busca por um autor recluso e por relatos de assassinatos de mulheres.

“A leitura é prazer e alegria de estar vivo ou tristeza de estar vivo, e, sobretudo, é conhecimento de perguntas. A escrita, em compensação, costuma ser vazio”

É um tipo de livro que marca, que impregna. Tanto que até hoje, meses depois da leitura, volta e meia me pego pensando em suas passagens. Não se passa ileso por 2666, ainda mais se você for dado a amar livros. Foi exatamente as partes que a literatura era protagonista ou uma figurante de luxo que mais me agradavam. Não que o peso dos crimes não tenham também deixado suas marcas. É essa capacidade de caminhar por assuntos diferentes, às vezes dispares, às vezes complementares, que torna o livro tão ímpar. Passei o parágrafo anterior tentando enquadrá-lo numa sinopse em vão, não cabe. Ele é um livro vivo, em constante movimento. Tenho a impressão que 2666 é um desses casos de livro pra ser sentido mais do que definido.

Numa determinada parte do livro, um personagem diz que escrever é inútil, que só vale a pena se o escritor estiver disposto a escrever uma obra prima. Ainda bem que Bolaño estava.

O Encontro Marcado, de Fernando Sabino



Algum escritor, em alguma palestra, se referiu ao livro O Encontro Marcado de Fernando Sabino, seu favorito, como uma obra daquelas que vai fundo, como se revirasse o lixo e encontrasse ali algo que possa, assim, ser transformado. A descrição foi boa o suficiente para fazer com que eu a ficasse martelando até comprar e, finalmente, ler o livro.

Enquanto lia, pensava: não é um livro para ficar na minha estante, deve ser passado a alguém. Não porque pensei em me desfazer da obra, mas porque julguei necessário que alguém tivesse contato com aquilo. Nunca havia lido nada do Sabino, não tinha ideia de como era sua escrita e se seu estilo me agradaria. Não só me agradou como me encantou. E agora posso concordar com as palavras do tal escritor, que o definiu muito bem.

Falando em escritor, O Encontro Marcado relata a história de Eduardo, um mineiro nascido numa família humilde e amável; nervoso quando pequeno, intelectual e boêmio quando adolescente e em crise quando adulto. Queria ser escritor, mas isso já era. Queria era escrever um romance e ai: “sou escritor”, “não sou escritor coisa nenhuma”, “vou escrever um romance”, “o que vou escrever?”, “está ruim” . O personagem mergulha em crises ditas profissionais que, no entanto, retratam perfeitamente sua personalidade e a certeza de que (por favor, que isso não pareça auto-ajuda) as oportunidades voam e a vida também.

O Encontro Marcado é simples, não traz a promessa de ser uma estória revolucionária e não o é. Entretanto, é belo. Uma leitura que faz com que você a questione e se questione durante e depois. Um livro que, sem dúvidas, já virou o meu de cabeceira.

Indico a leitura a todos que desejam se encontrar e também aos que gostam de se deparar com uma escrita rica e absolutamente apurada, aliás, Sabino consegue ser muito preciso sem delongas. É tudo muito rápido, objetivo e, repito, bonito.

Borralheiro, de Carpinejar


“Só é natural quem não ama. Somos despojados quando não temos interesse. Atuamos por comandos: sim, não, e deu. Nenhum desespero, nenhuma miséria no abraço, nenhuma insistência”, Carpinejar, em Borralheiro


Comprei o livro "Borralheiro", do Fabrício Carpinejar, no mesmo dia em que estive com ele pessoalmente, pela primeira vez. Ele veio a Belo Horizonte participar do projeto Sempre Um Papo. Já havia sido avisada por algumas amigas sobre sua figura teatral, mas não achei que fosse tanto. Chegou com as unhas pintadas, com seus tradicionais óculos estilo-abelha, e a cabeça raspada com a inscrição UAI, uma doce homenagem a nós, mineiros. Diferentemente do que costuma acontecer, a mediadora mal fez perguntas. Apenas soltou o microfone nas mãos de Carpi (para os íntimos) e deixou que ele falasse. A partir dali, foram cerca de duas horas de uma apresentação que era quase como um show de comédia stand up (mas engraçado). 

As falas do escritor adiantavam as crônicas que leríamos no livro que ele estava ali para autografar, o "Borralheiro". Quem segue o Carpi no Twitter, como eu, também conseguiu identificar na sua apresentação a sagacidade das verdades rasgadas que ele dispara em pílulas na internet (e que, inclusive, já rendeu outro livro).

O próprio "Borralheiro" é perfeito para ser consumido assim, em doses homeopáticas, como pílulas. Como um bom livro de crônicas curtas, qualquer intervalo numa fila de banco é hora para sacar o livro e consumir um dos textos. Principalmente se você for homem.

Minha meta agora é essa: presentear a todos os homens possíveis com um exemplar de "Borralheiro". Carpinejar, gaúcho, desconstrói a imagem do machão-machista ao relatar "sua viagem pela casa". Para ele é tão natural relatar que gosta de organizar as coisas de sua mulher, tão natural dizer que a ama incondicionalmente, tão natural revelar suas fraquezas ou assumir que não tem vergonha de perguntar a ela coisas que ele ainda não sabe, que nem parece que ele é um exemplar da mesma espécie que, sequer, consegue pedir informação no trânsito.

Mais de uma vez, o escritor afirma que começou a escrever como uma alternativa de sedução, já que sempre foi muito feio. Deu certo. As palavras de Carpinejar são apaixonantes e não nos deixa dúvidas de que estamos diante de um príncipe. O livro chama-se "Borralheiro", mas "Cinderelo" também seria apropriado. 

 Desafio: alguém consegue traduzir a dedicatória de Carpinejar no meu exemplar?

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Post inaugural!

Somos três amigas que, entre outras coisas, partilham a paixão por literatura. Diante da nossa carência por um blog de resenhas e críticas lietrárias com o qual nos identificássemos, decidimos, nós mesmas, criar este blog. Pretendemos partilhar aqui nossas impressões sobre os livros que lemos, além de outras novidades do mundo literário.

Esperamos que gostem tanto quanto estamos gostando de fazê-lo.

Sejam bem-vindos!