Sabe aquela leitura maçante daquele texto tão importante
quanto chato intitulado O Ser e o Nada? Pois é, você não a encontrará nos textos
literários de Sartre. E sabe toda aquela filosofia apaixonante, característica
de seu pensamento? Essa sim você encontrará, o que revela um
Sartre, no mínimo, talentoso.
Em A idade da razão, acompanhamos a trajetória de Mathieu em
busca de dinheiro para que sua namorada possa realizar um aborto. A história
já inicia com a notícia da gravidez e a aparentemente natural decisão de
interrompê-la, sem que durante muito tempo se considere outra possibilidade de
solução para o “problema”. Em seu decorrer, conhecemos o casal que possui
uma relação teoricamente descompromissada e, portanto, cômoda há anos. Fui
levada a compreender e questionar essa dinâmica sem que fosse tomada pela ira,
inconformismo e o drama que a situação poderia gerar.
Mathieu está no que julga ser a idade da razão e o que ele
entende por isso explica seu comportamento diante da decisão do aborto e a maneira
com que conduziu toda sua vida. As escolhas do personagem e o enfrentamento dos
resultados, exemplificam o conceito de liberdade do filósofo J. P. Sartre e nos
levam a pensar em outras questões existenciais.
Entre as pessoas que o personagem recorre, está seu irmão que
possui o dinheiro e, entretanto, uma opinião contrária não só a decisão de
Mathieu, mas à todas suas convicções responsáveis pelo que é e vive.
A idade da razão, assim como as demais obras literárias de
Sartre, não é um livro exclusivamente para Filósofos. Aliás, nesse caso, esqueça
os Filósofos se a palavra lhe der a ideia de qualquer tipo de hermetismo. É um romance para aqueles que gostam de histórias
bem construídas e contadas, o que ouso afirmar ser uma especialidade de Sartre.
O que fica é a já conhecida reflexão de que não tomar uma
determinada decisão se trata de uma escolha que implicará consequências como
qualquer outra. A passividade é também uma opção e o difícil é ter consciência
disso ao invés de simplesmente argumentar que “as coisas aconteceram”, “fugiram
do controle”.
O que enlaça é: fará ou não o aborto? E penso que já
informei demais até aqui!
2 comentários:
Lah, confesso que tenho um certo preconceito com livros escritos por filósofos, por acreditar que possa ser demais para minha cabeça. Mas antes mesmo de você falar para esquecermos a palavra "filófoso" eu já havia me afeiçoado pela premissa do romance. Acho que vou ter que ler pra essa curiosidade não me matar...rs
É que existe toda essa história de que filósofos são difíceis. Na realidade posso indicar muitos que são tranquilos de ler. A literatura do Sartre então, você nem vai sentir diferença. Ele é chato nos textos filosóficos, isso é...rs
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